Investimentos em florestas plantadas, de forma similar às atividades agrícolas, apresentam um importante fator de risco, já que os principais insumos de produção vêm de recursos naturais, principalmente água (chuva) e energia (radiação). Associam-se, ainda, os riscos do próprio manejo, como a adaptação genética, ocorrência de pragas, doenças, sinistros e silvicultura (fertilização, preparo de solo e qualidade das mudas).
Os custos da terra, da silvicultura e da madeira exercem pressões na margem de retorno, o que torna essencial ser competitivo e conhecer e quantificar muito bem os riscos mencionados. A validação de investimentos em florestas plantadas ou o planejamento de abastecimento de uma fábrica deveria sempre considerar e estabelecer estratégias para os riscos de produção.
Avaliar e quantificar os riscos nos investimentos em florestas plantadas passa, invariavelmente, por conhecer muito bem o ambiente de produção dos plantios, não só em termos de caracterização (como solos, relevo e médias climáticas anuais), mas principalmente da variabilidade e das interações (sazonalidade, variação interanual, balanço hídrico), ferramentas fundamentais para analisar risco da produção.
Isso é bastante importante, pois cada região tem uma dinâmica climática distinta, ou seja, existem regiões mais produtivas e mais instáveis, regiões menos produtivas e mais estáveis, regiões mais produtivas e mais estáveis (um cenário mais ideal), e por aí vai. Para exemplificar as questões acima, vamos fazer um exercício e analisar cinco locais com a mesma precipitação média, 1.400 mm/ano, em diferentes regiões do Brasil.
Abaixo, uma caracterização climática de cada local, com as médias mensais históricas de precipitação, temperaturas, balanço hídrico e variação interanual do déficit hídrico.
Apesar do mesmo volume de precipitação anual, os ambientes são bastante distintos, com locais com sazonalidade mais acentuada (1, 2 e 3), déficit hídrico bastante severo (1 e 2), distribuições mais uniformes da precipitação e com alta variabilidade interanual (4) e regiões com baixíssimo déficit hídrico e temperaturas mais amenas (5).
Uma vez acessada essa caracterização e variabilidade do ambiente de produção, é importante entender os reflexos na produtividade, ou seja, o quanto ela pode variar em cada local, com base no histórico climático e seus respectivos efeitos financeiros. Na Geplant utilizamos a ferramenta GPT para essa quantificação, desenvolvida com base em modelagem da produção.
Conhecer as médias e a variabilidade das premissas financeiras é a base para uma análise estruturada e robusta de riscos nos investimentos em florestas plantadas, como no exercício que fizemos abaixo, realizado com ajuda do método de Monte Carlo e outras ferramentas.
Nesse exercício, além de variar a produtividade de acordo com o histórico climático, variamos também a os possíveis efeitos de manejo (com base na performance de manejo, um indicador que desenvolvemos aqui na Geplant).
Os demais parâmetros de retorno financeiro foram: custo de implantação (R$ 7,5 mil/ha), taxa de juros (9% a.a.), preço da madeira (R$ 60/m³). Embora esses parâmetros também pudessem variar neste método, decidimos deixá-los fixos para simplificar o exercício.
Na figura abaixo observamos os resultados das análises. Escolhemos o VPL (valor presente líquido) para explorar as variações do retorno financeiro dos projetos. VPL positivo significa que o projeto remunera uma TIR (taxa interna de retorno) acima da taxa de juros base do projeto (9% a.a., no nosso caso).
No caso do local 1, a possibilidade de retorno positivo é muito baixa (< 1%), devido as condições bastante restritas de produção. Nesse caso, a menos que sejam revisadas as premissas, como reduzir o custo de implantação ou agregar valor no preço da madeira, o projeto não é viável. No caso 2, a chance de sucesso é um pouco maior, mas ainda muito baixa, aplicando-se as mesmas revisões de premissas.
No local 3, em condições de média produtividade, em 54% do tempo há VPL positivo. Nesse caso é importante adotar estratégias de mitigação dos outros 46%, seja na silvicultura (adotando tecnologias ou tendo um controle operacional maior) ou otimizando o custo, considerando realizar a talhadia em um segundo ciclo, por exemplo.
No local 4 é interessante notar que, apesar da maior possibilidade de retorno positivo (89%), a distribuição é mais “larga” que nos outros locais, indicando que é uma região mais instável, ou seja, com períodos mais longos de clima mais ou menos favoráveis. Por fim, a região 5 é a que apresenta maior estabilidade e chances de sucesso.
Consideramos essa abordagem muito importante quando vamos investir em florestas plantadas em uma nova região, onde tradicionalmente o que se faz é avaliar o quanto as florestas presentes na região estão produzindo para dar base ao planejamento dos projetos.
Imagine que você vá investir na região 4 acima e, no momento de avaliação, as condições climáticas da região estejam muito mais favoráveis do que o normal e as florestas no entorno estejam produzindo bem acima da média histórica (ou seja, no 7% dos dados positivos acima).
Se esses valores pautarem o projeto, isso pode trazer bastante impacto no retorno, pois esses patamares dificilmente se manterão no longo prazo. Fazendo um paralelo com o mercado financeiro, para quem costuma investir em ações, seria como comprar uma ação no topo do preço, ou seja, a possibilidade de o valor do papel cair é bem maior do que subir.
E você, conhece bem os riscos nos investimentos em florestas plantadas na região em que atua?