De que forma as plantações florestais podem efetivamente tomar parte no crédito de carbono? Essa pergunta foi a grande motivadora de um bate-papo entusiasmado que rendeu a prosa do almoço e mais um pouco, ainda mais quando a cultura da cana-de-açúcar também resolveu participar da conversa…
Antes de mais nada é preciso relembrar alguns pontos. Em primeiro lugar, nem todo carbono estocado pelas árvores é contabilizado como crédito, implicando no bendito (ou não) critério de adicionalidade, que exige comprovação de que as práticas adotadas por determinado projeto removeram mais carbono da atmosfera do que o costume. Este é chamado de linha de base, uma referência do esperado em condições padrões.
Mas quem define esses padrões? Por se tratar de um mercado ainda em maturação e que tem evoluído voluntariamente em paralelo às ações públicas para estruturação de mecanismos de incentivo, regulatórios etc., a credibilidade se deve à acreditação do próprio mercado de carbono. Uma das maiores iniciativas para tanto é a VCS (Verified Carbon Standard), liderada pela organização VERRA, líder global no desenvolvimento desses padrões.
É importante frisar que este não é o único mecanismo disponível, e que as convenções sobre a aplicabilidade do crédito apresentam margem tanto para expansão quanto para restrição. Entretanto, tomando o padrão VCS como exemplo, consideramos que uma das formas mais factíveis de gerar adicionalidade é através da extensão do ciclo de cultivo.
Agora, porém, interrompemos parte técnica para dar início à parte filosófica desta prosa, aproveitando o gancho da extensão do ciclo de cultivo para refletir sobre o estado atual das plantações: será possível um mecanismo de carbono capaz de saciar a demanda por madeira de um parque industrial em franca expansão? Em termos ecológicos, nossas plantações florestais têm se esforçado para se transformarem em verdadeiras florestas plantadas?
Para onde foi o cultivo mínimo? A faixa de preparo tem de fato se restringido apenas à linha de plantio? Como estamos cuidando da cobertura do solo e da preservação das cepas após o corte? Como estruturar o microplanejamento de propriedades quando os prazos são urgentes? A água do riacho está contemplada?
Honestamente, não é uma questão de carbono, de crédito, de ESG, mas uma questão de sustentabilidade da própria produção. Afinal, os ganhos em curto prazo e os toques de caixa seguem definindo o ritmo e as decisões mercadológicas. Quando a conta vier – e podemos dizer que as parcelas já estão chegando – não tomemos os efeitos pelas causas.
Sejamos otimistas, pois o conhecimento está na mesa. Que saibamos navegar com sabedoria o bom momento para cultivar a prosperidade que as árvores nos dão!
Um grande abraço aos amigos da Comunidade de Silvicultura!